Vou confessar que, se tem uma coisa que me dá vontade de deletar o número de uma pessoa, é quando nego vem me com aquela hipocrisia de "poxa, você sumiu..." Já notou que essa frase quase sempre vem de de gente que também não te liga? Se queria tanto me ver, por que não me chamou, ué? Moro na mesma rua e tenho o mesmo telefone fixo desde o nascimento. Não é tão difícil, vai.
Tirando as exceções, o resto é regra, já diria outro poeta. Quem é amigo mesmo pode se dar o luxo de ser meio relapso de vez em quando, porque sabe da sinceridade do seu sentimento. Ele esquece de te ligar, mas não te esquece. E não perde tempo precioso da tua presença com cobranças infantis- prefere saber o que aconteceu durante a ausência, contar as novas que já envelheceram. Rir lembrando dos absurdos que pareciam tão normais no passado.
Não interessa se passou um dia, um mês, oito anos ou uma vida inteira desde a última vez que se viram. Talvez a fala fique mais acelerada (so many news, so little time), os cabelos mudem, as crianças cresçam; mas o invisível tá ali, bem audível no vocabulário que ressurge, nas piadas internas, naquela coisa tão real quanto indefinível chamada sintonia.
E esses amigos têm o poder de te arrancar de toda lama, toda tristeza. Não que eles magicamente resolvam sua vida - alguns até tentam com boa vontade, mas nem sempre rola - mas por algumas horas ou pelo breve segundo de um comentário, eles conseguem transformar tragédias em comédias, doçura em lágrimas, cerveja em remédio. E é o telefone desses alquimistas de minha vida que eu prometo não deletar, mesmo que eu nunca me lembre de ligar.
*Este post é dedicado a algumas pessoas lindas que eu tenho re-encontrado e que transformam meus dias em ouro: Gá Miranda, Mic Mic, Dani Freitas, Faby, Fê, Wanvis, Tielle... Outras que ainda hei de re-encontrar em breve: Mouzes, Maíra, Monica, Fê (Blanda) França, Eli, Leiloca... E outras que estão no meu dia-a-dia, mas não têm blog! rs (Thata, Rê, Kel Leão, Bettinha, Lu)