sexta-feira, 1 de março de 2013

She's got her head in the clouds, and she's not backing down (...) Nobody knows, but she's a lonely girl*

*Para ler ouvindo: Girl On Fire, seja com a Alicia Keys ou com esta versão que me inspirou...

E nesses meses em que passei sem dar as caras por aqui muita coisa aconteceu. Tudo e nada e tudo de novo. Talvez por estar fazendo terapia a necessidade de transbordar a escrita aqui tem sido pouca, ou a inconveniência de escrever sem plateia acabe por me incomodar. Afinal, todos queremos aplausos, ao vencedor, as batatas. (Não, não confundi os blogues).
Dessa vez o que me traz aqui não é nenhuma melancolia (vá lá, talvez algumas gotas). Menos melodrama, mas uma constatação tão brutal quanto os mimimis da busca pela alma-gêmea. Dia desses, uma das minhas sábias guias me disse: "seja o homem que você quer ao seu lado". E ela não podia estar mais certa.
Quantas vezes comecei a caminhar nessa jornada de autoconhecimento (prometo tentar maneiras nos clichês, mas não tinha como, sorry), botei o sapatinho vermelho na ponta da estrada, dei umas pernadas e... voltei atrás? Me deixei levar de volta pra casa, que no fim não é a minha casa. Ao invés de achar o Kansas, voltava pro começo do tabuleiro, e sem nem receber os dividendos de direito (IMOBILIÁRIO, Banco). Como o blog, a dieta, a faculdade... quantas jornadas larguei? Perdi as contas. Quantas tatuagens esbocei? Também não sei. Quantas vezes parei a corrida com a matilha e até tive que voltar pro início? Menos ainda.
Só que há duas grandes vantagens ao se fazer trinta anos (que aliás, deve um texto): o tempo ganha duas características positivas. Se por um lado a urgência em completar a to do list diminui porque o prazo já passou mesmo, por outro a bucket list começa a ganhar mais importância porque a deadline (nesse caso, LITERALMENTE) já começa a se fazer enxergar (apesar das vistas estarem cansando e pedindo uma visitinha ao oftalmo). Não dá mais pra se perder tempo rodando por aí, começando jornadas que não se sabe se vai concluir. Shit's got real, baby. Ou mete as caras ou nem levanta da cama.
Também não dá mais pra perder tempo com sonhos alheios - e isso é que diferencia a to do list da bucket list. E eu digredi de novo, tudo bem. Retomemos.
O negócio é que eu tô percebendo, dessa vez de uma forma mais visceral que nunca (literalmente, de novo), que "passei tanto tempo tentando acertar minha Grace Kelly interior que não via que minha força estava na minha Grace Jones" (WALDORF, Blair). Perceber que uma pessoa de mapa astral 80% escorpiano, feminista, notívaga, ovelha negra da família e que depois de um ano de escolinha kardecista dá de cara com um patrono Pomba-Gira não veio ao mundo pra ser fofinha. Quer dizer, pode até ser fofinha nas horas vagas, mas quando o bicho pega, veio mesmo é pra desestabilizar, tacar na cara dos outros e de si o holofote e mostrar que a sombra é mais do que amiga - é a alma de verdade, aquela que aparece pra te defender dos outros e de si.
Não é que seja exatamente uma delicinha ser assim. Continuo achando que a vida cobra menos quando se é mais doce e mais "Raquel" por natureza. Ainda peço a Deus que minha filha venha com temperamento dócil - mesmo achando isso pouco provável. Mas por outro lado, quanto maior a montanha, maior a chama. Quanto maior o desafio, maior a força. E que muitas vezes, pra se ganhar a guerra é preciso sacudir o tabuleiro.
E é por isso que passei anos ensaiando e rabiscando tatuagens - que representam grandes amores, sim, mas que de repente foram lá pro fim da fila. E numa viagem de ônibus ouvindo uma música que fala sobre uma garota em chamas descubro que preciso da minha sombra à vista para não me perder dela, porque ela é o meu gerador. Ela é a minha força. Então a família e a Psicologia foram atropeladas pela urgência de colocar na pele (essa mesma que geral vive tentando invadir) o que tanta gente preferia que eu não visse. Pois é, não rolou: eu tô vendo e vocês também verão em breve. E é por isso que eu sei que dessa vez eu vou concluir a minha jornada, porque o que me move é a tal da urgência que leva as pessoas aos estúdios de tatuagem.
E não deixa de ser irônico e sábio que uma pessoa chamada "Ovelha mansa" tenha sua sombra representada por uma loba. Brace yourselves, Winter is coming.