segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Olha, no brilho de uma estrela que já não existe/É lá que meu amor te vê e ainda insiste/Como se calculasse um mapa astral... Juro, eu não te quero mais como eu queria/Se o coração me ouvisse não andava assim/ Pisando em cacos de amor*

* Para ler ouvindo: Cacos de amor, da linda Luiza Possi, que traduz inteira a lindeza e a delicadeza do que eu ainda sinto.

Sim, este espaço ainda existe. Ainda há um milhão de coisas indizíveis em voz alta, destinadas à discrição de um sussurro. Ou quem sabe eu resolva que não faz mais sentido ter endereços escondidos e exponha logo de uma vez tudo o que tenho na cabeça... sei lá. Por enquanto, ficamos por aqui pra certos assuntos.
E é lógico que a lembrança de você ia me tomar de assalto numa madrugada de domingo, sem um detonador além das coisas que soube sobre você, e aquele algo que fica aqui, dormindo num canto da alma, e de repente acorda faminto pelo cheiro da tua camisa. Mas o negócio é que a saudade de você tá aqui, quase materializada na minha frente, e ela não vai me deixar dormir.
É uma equação complicada, e cada vez descubro mais e mais complicações. Não bastassem os fatos já conhecidos (o casamento, o tempo, a distância emocional, a sua mágoa), confirmar que sim, foi real, e na mesma tacada descobrir que de fato e irrevogavelmente, we're not meant to be foi um baque daqueles. E me desorientou de várias maneiras.
Não foi uma grande surpresa descobrir que nossa ligação vem de várias outras vidas, e foi. Foi porque quando existe essa ligação a gente espera que algo além dessas ruínas sobreviva, ou que o sentimento fosse forte o suficiente pra pelo menos a gente ter vivido um pouco. Não, ambos nos agarramos às nossas inseguranças mas do que ao sentimento, e isso contraria a ideia romântica de passar vidas procurando um pelo outro. Mas ao mesmo tempo, explica porque é tão difícil te arrancar daqui de dentro, porque vivo a vida, me apaixono, e meu pensamento instintivamente volta pra você num instante de nada, num raio.
E por outro lado, tem essa descoberta, esse não poder ficar perto, nem como amigos. Talvez a amizade não fosse mesmo possível de existir sem que nos queiramos mais, mas essa ruptura, essa mágoa... porque não adianta dizer que a separação vem de ordens superiores. O fato é que eu ainda sofro por não te ter e mais ainda por não ter tido você, nem um beijo para lembrar. Acho sim injusto que tanto amor seja em vão, e mais injusto ainda saber que ele continua existindo e vai continuar mesmo com essa barreira intransponível entre nós dois. Me faz questionar se não valeria irritar os céus para pelo menos poder dissipar a dúvida. Porque eu não me lembro do teu beijo, mas lembro nitidamente do teu cheiro.
Como não me deixar levar pelas lembranças, pelo que sentia e pela sensação tão clara de que você precisa tanto de mim? Pelo que me disseram, você deve estar passando por algum problema que precisa passar, e eu não posso fazer nada pra te ajudar. Mas a sensação que tenho é de que se você me deixasse chegar perto, eu teria como te ajudar. Tudo bem, admito que isso faz sentido se pensarmos que eu "fazer a lição de casa por você" seria algo bem possível, ou a possibilidade de eu me enfiar em um problema grande e que não preciso viver. Mas então como se resolve o impasse que surge quando a gente lembra que até hoje não consegui me desenredar de você, e não consigo seguir em frente? E que eu faço com a agonia que sinto por sentir que alguém que eu amo está sofrendo por algo que eu nem consigo (ou tenho permissão para) cogitar? Nem hipóteses me são permitidas - mas eu também não consigo esquecer você. E não ajuda muito ver que a sua esposa está cada dia mais parecida comigo, como se intuitivamente soubesse e procurasse uma prêmio de consolação pra você. Sorte a sua, porque não há prêmio de consolação algum pra mim.
Porque eis a verdade tão óbvia e que eu ainda reluto tanto em pronunciar: eu ainda te amo. Não, não é gostar, não é querer bem e desejar tudo de bom (eu já sei como é superar um ex e trust me, nada mais longe disso). É ainda se perguntar se não seria possível, nem que fosse no fim da vida, que a gente se reaproxime, ou que pelo menos a gente possa se encontrar uma vez, nem que seja só para resolver as arestas. É ainda amar, é ainda querer viver, nem que seja por um milissegundo. Porque eu arriscaria até a ira divina por um milissegundo nua nos seus braços.

UPDATE: E procurando por respostas inaudíveis, eu me deparo com isto: http://glo.bo/1e6ad4U. Como lidar?

sábado, 27 de abril de 2013

"Se não tá mais à vontade, sai por onde entrei/Quando começo a dançar eu te enlouqueço, eu sei/Meu exército é pesado a gente tem poder..."*

*=Meu mais novo guilty pleasure, Show das Poderosas, com a mega poderosa MC Anitta. Porque era pra ser um texto sobre paixão, mas mudou de tema. #prioridades

Me lembro de uma aula dada por um (maravilhoso) professor (homem, hétero e o baixinho careca pançudo mais sexy que já vi), em que ele dizia que ser mulher é um exercício de ser muito mais dúbio do que ser homem - porque o homem nasce sabendo o que é ser homem e sabendo que nunca vai ser esse ideal, e a mulher aprende a ser mulher vendo outras mulheres, e nunca é tão claro o que se espera da gente. O ideal de mulher é uma figura meio borrada (e totalmente mutável) que, ao mesmo tempo em que nestes tempos é algo quase inatingível, sempre há esse quase a nos dizer que é não só possível quanto obrigatório. Mas que raio de ideal é esse?
Normalmente os meus textos aqui são bem mais pessoais, mas agora aproveito pra divagar sobre o tema (e nas entrelinhas borradas de rímel me permitindo revelar um pouco aqui e ali). E no fim, acaba sendo de novo um texto sobre o meu momento.
Somos ensinadas desde cedo a sentar de perninhas fechadas e mais: CRUZADAS. Tipo um impedimento pra qualquer aproximação de um falo simbólico ou não. E a ser boazinhas, comportadas, não sujar os vestidos enquanto os moleques aprendem como primeiras palavras "papai", "mamãe" e "taiaio" (ou alguma outra tentativa de falar "caralho"). Aos meninos são dados os bonequinhos de lutinha, e a nós as bonecas que nos demandam com choro ou fraldinhas que sujam "de verdadinha". Não tô dizendo que ser homem é mais fácil (pelamordedeus, eles têm que lidar com a gente. Só isso já é complicação aos quilos. Além do mais, me falta a óbvia experiência no assunto). Mas pensemos nas nossas possibilidades e obrigatoriedades (apenas 4% das mulheres do mundo todo se consideram bonitas. Guardem essa informação que daqui a pouco chego nela).
Aí vem uma filha de Lilith e diz que tá tudo errado. Se recusa a aceitar as bonecas e o se achar feia, descobre que chegar de punho fechado e meter as caras é a sua verdade. Resolve ser esse 4% - se as outras não querem, deixa que eu chuto. E o que acontece?
Ela incomoda. Faz as crentes do status quo se remexerem em suas cadeiras, puxando as saias pra baixo e os decotes pra cima. E inevitavelmente atrai o olhar dos homens - seja pelo que a saia quase mostra ou pelo próprio destoar, atrai. E aí incomoda de novo - e assusta, mulheres e homens. É quase um Godzilla chegando em Tóquio.
Penso nisso tudo vendo três persona(gen)s que estão "na pauta", um pouco mais ou muito menos. Por que será que numa série infanto-juvenil, no meio dos restarts da vida, aparece uma personagem tão adulta quanto a Fatinha? Menina meio louca, periguete declarada e juramentada, inteligente a ponto de zoar Clarice Lispector (e acho que o amor seria plenamente correspondido), mete os pés pelas mãos, causa, faz besteira, mas na hora do aperto, feito mãe, acolhe todo mundo no quartinho do seu trabalho. Porque ela sabe de algo que aquelas crianças não sabem. Causa, sabe que causa e gosta mesmo disso: causar. Era pra ser vilã, mas rouba a cena da mocinha. Ou era pra ser mocinha, mas tem backbone (ou tutano, palavra horrível) demais pra caber no vestidinho rodado ou nas camisetas de rock compradas na loja de departamento.
Outra que tem me chamado a atenção é a musa do post. Acho curiosíssima a reação das pessoas pra quem eu mostro as músicas da Anitta. Mesmo tendo o mesmo estilo musical do one hit wonder do mês (passado), parece que a aceitação dela por essas bandas não tem sido a mesma. Será que é porque paulista teima em torcer o nariz pro que vem do RJ (até pegar o bonde depois que todo o Brasil já embarcou), ou será que é pelo fato dessa menina gata pra caramba cantar usando uma calcinha grande que é poderosa, mexe com a imaginação e não aceita menos do que deseja? Será que eu tô só uns meses adiantada ou tem mais coisa aí? Quem (além do tempo) se arrisca a responder?
E a terceira figura desse post. Enquanto você só fala uma gracinha ocasional aqui ou ali, é fácil ser parte do bando. Mas e quando a ovelhinha mostra os dentes, como fica? Quando a she-wolf dá as caras, e pisca os olhos amarelos em direção pouco conveniente? Pior ainda se, ao invés de sorrir amarelo e dizer que tá de dieta, ela saboreia a tortinha de climão e ainda lambe os dedos! Por mais que ainda seja a mesma, ainda tenha a admiração da matilha, o cheiro mudou. Lock your men, there's a shewolf out of the closet! E causa tanto tumulto que é capaz de fazer a vestal em um só dia brigar em público, mostrar o dedo do meio e depois ainda dizer que "essa garota é uma figura". Ela mostra as garras e vai atrás do que quer, mesmo que esse querer esteja em outros pastos. Ela vai e pronto, pro inferno com as regras, pro inferno com as cercas.
É muito engraçado ver como a maioria das mulheres ainda é #teamAniston. A mulher já tá noiva do quarto cara, mas ainda é vista como a pobre vítima da loba Jolie. Porque é mais fácil se manter com as perninhas cruzadas. E ao invés de experimentar novos terrenos, é mais fácil olhar torto pra quem anda por outros prados - mesmo estando loucas pra se aventurar também. E ela, a shewolf, comete o maior pecado de todos: não pede desculpas pela sua natureza lupina, não se apaga pra não ofuscar as outras.
Até os homens às vezes se assustam, mas oscilam entre o medo e o fascínio. Outro professor (também "hômi com H") disse que ouvia um barulho de saltos e pensou que fosse uma assombração, mas era ela. Ele não está de todo errado. Eles podem até não querer olhar, mas sempre olham.
E quer saber do que mais? No fim das contas, é a Jolie quem tá casada com o Brad e com seis filhos lindos.   Santa Mae West tá coberta de razão: as boazinhas vão pro céu, as más pra todo lugar. E se divertem muito mais.
E se não tá mais à vontade, sai por onde entrei.

sexta-feira, 1 de março de 2013

She's got her head in the clouds, and she's not backing down (...) Nobody knows, but she's a lonely girl*

*Para ler ouvindo: Girl On Fire, seja com a Alicia Keys ou com esta versão que me inspirou...

E nesses meses em que passei sem dar as caras por aqui muita coisa aconteceu. Tudo e nada e tudo de novo. Talvez por estar fazendo terapia a necessidade de transbordar a escrita aqui tem sido pouca, ou a inconveniência de escrever sem plateia acabe por me incomodar. Afinal, todos queremos aplausos, ao vencedor, as batatas. (Não, não confundi os blogues).
Dessa vez o que me traz aqui não é nenhuma melancolia (vá lá, talvez algumas gotas). Menos melodrama, mas uma constatação tão brutal quanto os mimimis da busca pela alma-gêmea. Dia desses, uma das minhas sábias guias me disse: "seja o homem que você quer ao seu lado". E ela não podia estar mais certa.
Quantas vezes comecei a caminhar nessa jornada de autoconhecimento (prometo tentar maneiras nos clichês, mas não tinha como, sorry), botei o sapatinho vermelho na ponta da estrada, dei umas pernadas e... voltei atrás? Me deixei levar de volta pra casa, que no fim não é a minha casa. Ao invés de achar o Kansas, voltava pro começo do tabuleiro, e sem nem receber os dividendos de direito (IMOBILIÁRIO, Banco). Como o blog, a dieta, a faculdade... quantas jornadas larguei? Perdi as contas. Quantas tatuagens esbocei? Também não sei. Quantas vezes parei a corrida com a matilha e até tive que voltar pro início? Menos ainda.
Só que há duas grandes vantagens ao se fazer trinta anos (que aliás, deve um texto): o tempo ganha duas características positivas. Se por um lado a urgência em completar a to do list diminui porque o prazo já passou mesmo, por outro a bucket list começa a ganhar mais importância porque a deadline (nesse caso, LITERALMENTE) já começa a se fazer enxergar (apesar das vistas estarem cansando e pedindo uma visitinha ao oftalmo). Não dá mais pra se perder tempo rodando por aí, começando jornadas que não se sabe se vai concluir. Shit's got real, baby. Ou mete as caras ou nem levanta da cama.
Também não dá mais pra perder tempo com sonhos alheios - e isso é que diferencia a to do list da bucket list. E eu digredi de novo, tudo bem. Retomemos.
O negócio é que eu tô percebendo, dessa vez de uma forma mais visceral que nunca (literalmente, de novo), que "passei tanto tempo tentando acertar minha Grace Kelly interior que não via que minha força estava na minha Grace Jones" (WALDORF, Blair). Perceber que uma pessoa de mapa astral 80% escorpiano, feminista, notívaga, ovelha negra da família e que depois de um ano de escolinha kardecista dá de cara com um patrono Pomba-Gira não veio ao mundo pra ser fofinha. Quer dizer, pode até ser fofinha nas horas vagas, mas quando o bicho pega, veio mesmo é pra desestabilizar, tacar na cara dos outros e de si o holofote e mostrar que a sombra é mais do que amiga - é a alma de verdade, aquela que aparece pra te defender dos outros e de si.
Não é que seja exatamente uma delicinha ser assim. Continuo achando que a vida cobra menos quando se é mais doce e mais "Raquel" por natureza. Ainda peço a Deus que minha filha venha com temperamento dócil - mesmo achando isso pouco provável. Mas por outro lado, quanto maior a montanha, maior a chama. Quanto maior o desafio, maior a força. E que muitas vezes, pra se ganhar a guerra é preciso sacudir o tabuleiro.
E é por isso que passei anos ensaiando e rabiscando tatuagens - que representam grandes amores, sim, mas que de repente foram lá pro fim da fila. E numa viagem de ônibus ouvindo uma música que fala sobre uma garota em chamas descubro que preciso da minha sombra à vista para não me perder dela, porque ela é o meu gerador. Ela é a minha força. Então a família e a Psicologia foram atropeladas pela urgência de colocar na pele (essa mesma que geral vive tentando invadir) o que tanta gente preferia que eu não visse. Pois é, não rolou: eu tô vendo e vocês também verão em breve. E é por isso que eu sei que dessa vez eu vou concluir a minha jornada, porque o que me move é a tal da urgência que leva as pessoas aos estúdios de tatuagem.
E não deixa de ser irônico e sábio que uma pessoa chamada "Ovelha mansa" tenha sua sombra representada por uma loba. Brace yourselves, Winter is coming.