sábado, 25 de outubro de 2014

"But now, I don't negotiate with insecurities/They always seem to get the best of me/I'll find a way to love myself the way I want you to love me"*

*=Love me, da Katy Perry, música tão linda que a primeira vez que ouvi chorei. Chorei mesmo. Num ônibus às 18h. Aliás, a letra toda devia ser o título do post.

Se eu tiver filhos e puder cuidar de somente um aspecto da sua educação, esse aspecto seria a autoconfiança. Porque é meio doido, parece que a gente nasce sob o signo da insegurança, ou até que é um lance congênito, mas não é. A gente recebe isso desde pequena, e quanto mais únicos somos (sem nenhum juízo de valor, me refiro às diferenças do padrão), mais pesada ela fica. Quanto mais precisamos de segurança, mais ela nos escapa.
Nos últimos tempos eu tenho aprendido muito sobre mim e sobre mim no mundo. Dizer que nesse período eu estou, mais do que vivendo, em uma jornada não é um exagero. Tenho andado tanto, tanto, despido tantos dos meus medos... mas sempre chega em um ponto onde de novo eu tenho que encarar meu maior fantasma: o espelho.
Porque parece que eu ando sobre uma corda bamba, sombrinha na mão. Segura, segura, vai, Raquel, você consegue...e venta, e eu me desequilibro. De volta à estaca zero.
Se ao menos eu pudesse (ou será que eu posso?) retomar do ponto onde caí, sem dúvida já estaria na linha de chegada - pelo menos desta última vez. Vacilei sim, mais de uma vez; vacilei diante do teu sorriso, vacilei diante do teu interesse, e vacilei mais ainda quando a sua perfeição se desnudou na minha frente. E vacilei quando você vacilou porque, no meu espelho, sua perfeição seria à prova de vacilos. Surpresa, Raquel, você não é a única. Vacilei duvidando que algo especial pudesse ser destinado a mim. Pra falar a verdade, ainda não sei se foi pra mim. Mas aqui falo de mim, a única parte dessa equação que conheço de A a Z. E pode ver, até esta dúvida também não deixa de ser reflexo do meu oscilar.
E agora preciso voltar a me inclinar sobre esse espelho, por três motivos. Primeiro, porque é tudo o que posso fazer neste momento, é tudo o que tenho à mão (já que a sombrinha ficou lá embaixo). Segundo, porque eu preciso muito entender que vento é esse que sempre me derruba, em diferentes pontos, mas sempre do mesmo jeito, sempre soprado por uma terceira pessoa. Terceiro, porque se ainda há alguma chance, ainda que pequena, de eu completar ESTA linha, é entendendo o que acontece e aprendendo a driblar essa barreira. E eu sei que só consigo fazer isso se conseguir me entender, e vencer a insegurança, e me amar incondicionalmente, sem permitir que essa insegurança leve embora o melhor de mim.
E mais ainda, se a insegurança não é um signo de nascença, ela pode ser eliminada. Eu não nasci com ela. Uma das mulheres mais lindas, talentosas e admiradas do mundo não nasceu com ela. Por que então ela insiste em voltar, tal qual gripe mal curada? Chega. É preciso encontrar uma cura pra isso, e já sabemos que a cura reside no veneno. Então me resta estudar o veneno. Mas Deus, como isto é difícil. Mais ainda quando se sente que o cronômetro está jogando contra, e que as lembranças estão se desvanecendo. Como deixar tudo aqui dentro tranquilo pra que eu possa entender tudo com esse tiquetaque ensurdecedor?
Só que eu sei que essa inquietude que me domina não é escoriação do tombo. É o desejo de continuar me equilibrando nesse fio. Porque eu sei que preciso desta jornada. Preciso completar esse percurso pra conseguir o maior prêmio, que não, nem é a proteção dos seus belos braços. É a tranquilidade de saber que estarei no lugar onde sempre deveria estar: em mim.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

"I'm wide awake/Yeah, I was in the dark, I was falling hard with an open heart/I'm wide awake, how did I read the stars so wrong?"*

*Wide awake, da Katy Perry - porque essa música e esse clipe são tão Junguianos e tão meus que parece que co-escrevi com minha terapeuta.

Não, não tô chorando por sua causa.
Tô chorando por mim. Tô chorando por reviver o mesmo dia da marmota, all over again.
Tô chorando porque o tanto que eu lutei, contra a dor revivida um milhão de vezes, lutei por você e contra mim. Não contra mim no sentido que costumava ser, aquele de me abandonar em nome do outro. Lutei contra aquela parte de mim que dizia que o melhor era ficar quieta, na rotina das séries, dos amores platônicos e do meu próprio calor.
Meu Deus, só eu sei o quanto eu batalhei pra que dessa vez fosse tudo diferente. E guess what? Foi mesmo - QUASE tudo. Superei meu pânico literal de me apaixonar, recuperei a voz ao dizer o que me engasgava, me reinventei, e mesmo de um jeito meio torto, arrisquei. E tudo sinalizava que dessa vez seria diferente. Mas não foi. Mais uma vez, foi só mais do mesmo.
Porque eu não consigo entender essa equação. Quebro minha cabeça pra tentar entender afinal o que me faz presa nessa fase, mesmo quando tento sair. E faz semanas que sempre sai no IChing a mensagem de que eu preciso considerar mais de um caminho. Só que eu não consigo ver nada, é como se eu andasse no escuro, contando só com a minha memória. E aí fica muito difícil não cair no mesmo buraco.
Como eu posso voltar no passado e fazer as pazes comigo mesma, se para isso eu preciso mentir? Porque dizer pra Raquel do passado que ela vai ficar bem e que não deve guardar os efeitos do maior dos golpes, se eu mesma não só não acredito nisso como estou aqui hoje, levando mais um? Eu sei que vou sobreviver, e que até vou conseguir ficar até bem, mas meu Deus, será que um dia vou dar pra essa menina que eu fui e que continua cuidando de mim tudo o que ela sonhou, mesmo de outra forma?
E o pior (ou melhor, sei lá) é que nada disso diminuiu o que eu sinto. Nem mesmo saber que o presente brilhante de aniversário que eu planejei pra daqui a dez dias vai ter que ser entregue pela metade, e que vou ter que substituir meu xeque-mate por um parabéns xoxinho me faz querer menos te dar um presente especial. Pelo menos dessa vez não quero te deletar da minha agenda, da minha vida, porque eu continuo sentindo o que estou sentindo. Só com um resquício mais amargo na boca. Se isso é esperança de que não vá muito longe, se é pressentimento ou só mais autoengano, não sei. Mas eu sinto, e se eu respeitei esse sentimento antes, não é agora que vou desrespeitar (e só escrevendo isso é que eu lembro da carta do tarot da manhã, que dizia pra eu me preocupar apenas em amar, sem esperar recompensas, que a recompensa viria - irônico).

segunda-feira, 14 de julho de 2014

"I'm gonna find a way to make it without you, tonight/I'm gonna hold on to the times that we had tonight/I'm gonna find a way to make it without you..."

*Try sleeping with a broken heart, da Alicia Keys - porque é óbvio que eu não vou dormir hoje.

Quantos milhões de vezes te risquei do mapa. Quantas centenas de vezes eu enterro essa caixa de Pandora que é você, e acho um jeito de seguir sem você, na esperança de que um dia isso não seja só uma forma de atravessar uma noite insone. Mas aí a coisa toda se torna um emaranhado em que eu já não sei mais se é um chamado de dentro ou se é o destino que sempre me lembra da nossa Sagrada Família pessoal. E a comparação torna tudo mais doloroso.
Porque onde Gaudí estiver, ele também deve se perguntar. Por que Deus permite que algo tão belo e grandioso seja criado, se a sua conclusão é uma ideia tão abstrata quanto o próprio conceito de Deus? Ou será que existe sim um deadline pro sonho acontecer? E nem mesmo meu vício em oráculos consegue encontrar uma resposta minimamente satisfatória.
Outra coisa que não consigo compreender (e que talvez ajudasse muito a me orientar) é essa concomitância. Eu já nem sei mais a ordem dos fatos, porque eles sempre vêm quase no mesmo instante: sonho com você - algum sonho muito real, nítido, sensorial; alguém cruza meu caminho e me faz repassar a nossa história; e você se aproxima - não a ponto de finalmente ficarmos frente a frente, mas o suficiente pra me fazer quase crer que pelo menos a nossa conversa pode existir. Quase um snapchat me dizendo que em um universo paralelo existe um nós, e nada serve de empecilho pra esse nós. E aí volta tudo, a Caixa de Pandora é aberta de novo e tudo o que fica ali é a esperança. Sabe, até hoje não entendo a moral da história da Pandora, o significado da esperança ter ficado na caixa - se isso quer dizer que todos os males são findáveis e só a esperança é imortal, ou se só ela escapa totalmente das mãos humanas. E quando penso na nossa história, essa mínha dúvida semântica faz todo o sentido.
Eu juro que penso em emagrecer-fazer hidratação-arrumar emprego-fazer a melhor versão de mim pra quando a gente se encontrar. Aí eu fecho a caixa e volto pra minha vida, pra paixão da vez, pra rotina, e esqueço de passar o creme nos pés antes de dormir. E vou conseguindo dar um jeito nas noites insones e solitárias. E juro que não vou mais abrir a caixa, pelo menos não até, sei lá, eu "ficar pronta", ou você me achar, o que vier primeiro. Até que alguém me convida a ir num show e eu descubra chegando lá que é cover do Coldplay, e eu grite Viva la vida com os olhos fechados pros holandeses lindos que estão lá. Doesn't matter, o máximo que eu vou conseguir encontrar ali é um copycat barato seu, mesmo que ele também consiga a proeza de ficar másculo usando lilás.
Porque a lógica sabe, e eu juro que sou emocionalmente inteligente pra não querer seguir esse caminho de novo. Porque eu SEI, mesmo meu coração SABE que it's not meant to be. Porque quantas vezes eu pergunto de você pro ~povo dos spoilers~, quantas vezes terei respostas imprecisas ou pior, definitivas. Mas mesmo com as respostas "definitivas" e tudo o mais conspirando contra, você ainda me aparece nos sonhos (e agora com contato físico), e mesmo quando não lembro o sonho, ainda fica um rastro do seu famoso cheiro de camisa limpa, autocontrole e testosterona. E quando isso acontece, é inevitável: eu abro a playlist (mesmo ela se chamando DO NOT OPEN THIS BOX), e quando finjo que não estou sentindo, algo dentro de mim me arrasta, e em seguida você aparece, com uma postagem ou até com o comunicador - tão perto, tão longe. E mesmo quando eu ignoro, alguma coisa na minha alma continua gritando de dor, quase como se fosse um membro fantasma, doendo uma parte que já foi amputada há tanto tempo.
Eu só queria saber se eu tenho que enfrentar a ira divina pra te encontrar, se o destino está brincando com a gente pra preparar o terreno pra inauguração da catedral, ou se eu vou mesmo sentir pro resto da vida a dor dessa parte da minha alma que ficou com você. Porque a dor não faz sentido e não é desejada, mas ela volta. Como você, ela sempre volta.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

"They say that I'm too young to understand/They say I'm caught up in a dream/That life will pass me by if I don't open up my eyes/Well, that's fine by me"

Semana tensa, cheia de problemas e compromissos. Mesmo o sábado não tem sido de nenhum descanso, saí correndo do centro e me arrumei meio sem jeito, make improvisado e a primeira roupa sexy que vi (mesmo que manjada). Tenho só 20 minutos pra estar pronta.
Sabe, eu tô de saco cheio disso tudo. Dessas últimas semanas a gente brigando por qualquer besteira, de você me empurrando pra longe, fazendo tudo o que sabe que eu não gosto, de caso pensado.Das tuas criancices, porque às vezes você age como um menino de 18 anos (e você ser um não te dá a prerrogativa de agir assim, porque te conheço e sei que isso não é seu).
Também já ouvi tanta coisa que nem sei se quero mais. Tanta gente me dizendo que não faz sentido, que eu sou mulher demais pra você, que você é menino demais pra mim. Não faz sentido, e eu já tô de saco cheio de me sentir como se entrasse no jogo perdendo de 3 a zero - um pelos nossos amigos, um pela sociedade e um por você parecer que concorda com tudo isso, e eu me sinto uma idiota tentando te convencer que eu sou melhor que essas cocotas que você fica dando em cima e que tanto me irritam.
Chega. Vou fazer o que me disseram, vou pegar aquele seu amigo que você morre de ciúmes, e se você souber, azar. Cansei. Não me parece mais real, não faz mais sentido pra mim.
A festa tá lotada, e tem pista de dança. Essa eu não esperava. Não te vejo em lugar nenhum, vou buscar uma bebida. E esbarro em você, lindo, camisa preta e cheiro de homem. Seguro a onda, respiro fundo 3 vezes (e fico mais tonta com o perfume bom do que com o vinho), e vou fazendo blasé, até mexo com outros caras enquanto converso com você. E sim, vejo sua boca torcida. Mas ué, não foi você quem quis assim?
E aí toca a minha música preferida. Que você sabe que é a minha preferida. E aí você me derruba.
Você me sorri, de um jeito que eu sempre imaginei, com uma mistura de admiração, diversão e até de condescendência (como se dissesse "sei que você é assim meio maluquete e não só isso é ok como eu gosto disso"), você me olha sorrindo e diz "já sei... vai lá. Vai e volta." E eu vou, e se a música pede para nunca abrir os olhos, ironicamente abro os meus e te vejo me observar, de longe, com um sorriso. E esse sorriso ainda tem admiração e diversão, mas tem algo diferente, bem longe de complacência. Bem longe, mais intenso e mais quente. Coisa de homem.
O que você não sabe é que esse sorriso é o que eu sempre busquei, que eu sempre sonhei com isso, com alguém que não só entendesse minhas maluquices, meu jeito atípico de ver o mundo e até meu romantismo meio torto, mas que goste disso, que saiba que isso é minha essência. Que seja ora homem ora menino, que trabalhe duro e seja controlado com grana, mas que dê risada das coisas mais idiotas e infantis. Que me toque sem que ninguém perceba e se arrepie, que me olhe com carinho e me diga desaforos.
E é nesse olhar que o meu mundo faz sentido, mesmo que a nossa história a princípio não faça. Porque você é tudo o que eu sempre quis numa embalagem que eu jamais teria arriscado abrir.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Boa noite, meu nome é Raquel e eu sou uma covarde.
Antes que alguém duvide ou julgue, explico que não sou dessas pessoas covardes simples, de nascença. Fui uma criança razoavelmente exploradora, uma adolescente tão impulsiva que beirava o kamikaze e uma jovem conhecida pela audácia. A covardia entrou na minha vida num processo: chegou discreta, uma mudinha ali no canto, um broto de "deixa pra lá, eu nem estava tão assim a fim dele". E foi crescendo na superfície, até se infiltrar e criar raízes tão profundas que estão aqui até hoje no meu coração-xaxim. Porque a minha covardia tem mais essa peculiaridade: mato baratas com maestria, mas tenho crises fóbicas ao ouvir certas canções de amor.
A catalepsia chega num ponto que foi capaz de congelar o tempo, e 3 anos se passaram num bater de cílios. E se eu tentar achar a primeira muda dessa erva-daninha terei alguma dificuldade na busca, mas sei como ela se fortaleceu: entrando nas sucessivas fendas abertas na alma a cada não, a cada expectativa que ia embora, a cada sombra  de uma suposta rejeição recebida como certeza. Porque enfim chegou um tempo que a sombra da sombra de um não passou a ser capaz de cortar a carne e chegar no meu epicentro. Pronto: me fiz covarde.
Agora estou aqui, finalmente ansiosa por matar essa raiz, sem conseguir me desenredar dela. Aquilo que eu mais desejo é aquilo que mais temo. É ter claustrofobia e não conseguir ficar em casa, e ao mesmo tempo ser agorafóbica e não tolerar o mundo lá fora: nenhum lugar é mais confortável, nem dentro de mim. Porque ficar é continuar ansiosa por sair, e sair é a todo instante querer voltar pra cama.
 E é por isso que nem eu me reconheço. Não mais me obedeço, abro a boca e o som não sai, levanto o pé e não dou o passo. Me contradigo e o que era pra ser um recado claro vira exatamente o oposto. Parece que o braço dá choque e não tem ensaio que resolva. E aí cada vez que eu erro a deixa são mais algumas horas remoendo a vontade de chutar minha própria bunda, voltar os ponteiros e dizer "volta aqui, eu tenho algo mais pra te falar". Mas tudo o que eu consigo é murmurar qualquer coisa e odiar o relógio que não volta, só me assombra com esse tic tac fantasmagórico e um deadline desconhecido (quase uma dança das cadeiras, em que se você não tiver um bom timing, perdeu playboy - mais raízes).Nesse compasso cada passo despercebido pela humanidade é um grande passo para uma mulher.
E não bastando o monólogo, tem você, o interlocutor. Muitos já passaram por mim e não foram além de um ou outro cuidado, e tornar-se item de uma coleção de memórias e arrependimentos e "e se".Nem mesmo um amor tão superlativo foi capaz de quebrar meu mutismo, só o fez piorar. Aí a última pessoa do mundo que eu podia imaginar é quem me deu voz, de tantas formas. Não sei se foi a surpresa de me ver envolvida por você se foi tua doçura quando quer ou o bater dos teus cílios, mas você tem sido tão precioso nesse processo de quebra das raízes da minha covardia.
Não, ainda estou muuuuuuito longe de ser Maria Callas. Mas aos poucos a voz está saindo, ainda rouca, baixa e fanha, mas algum som está saindo. Então mesmo que ainda não saia a música, só o fato de já ter voz para tal me faz ser mais grata a você. Que música está tocando aqui dentro também não faço a menor ideia, e isso é a melhor e a pior coisa dessa história, porque se eu não sei que música está tocando aqui dentro, não sei o que estou arriscando, para o bem e para o mal -  sem a pressão dos superlativos das histórias definitivas, mas tampouco com qualquer firmeza neste chão. Não faço ideia de que música toca nos meus fones porque não consigo ouvi-los, mas também não consigo te ouvir.
Mas sei de uma coisa: que nesta história, desta vez, não posso deixar de soltar a voz nem que seja só um trinado. Agora só falta matar de vez essa covardia e mudar o início do texto.