sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Minha casa não é minha e nem é meu este lugar/Estou só e não resisto, muito eu tenho pra falar*

Mais uma vez me recordo porque eu odeio chorar. Mais uma vez tenho vontade de colocar aquele cd que você me deu, seu último presente pra mim. Faixa 9, ainda me lembro da sua cara de orgulho ao ver que eu consegui um reembolso tão alto no mercado, e da sua satisfação ao ver que ao invés do rock costumeiro, Flávio Venturini foi o que escolhi. Lembro da gente ouvindo o cd na volta, cúmplices. Deus, como eu adorava andar de carro só com você – mesmo que quando se tem 19 anos isso não seja tão óbvio como aos 6.

Lembro de cada vez que você sentou comigo, eu louca de raiva e angústias juvenis, você com toda a sabedoria de quem teve filhos já aposentado. De todas as vezes que você disse o que ambos pensávamos, politicamente incorreto: “Ela é uma velha chata, me perturba o tempo todo, me enche o saco e às vezes eu tenho vontade de mandar ela pra puta que pariu também, juro que te entendo; mas o que eu vou fazer, se eu a amo? Você também a ama mesmo assim, então se eu não mando ela pra lá, você também não vai mandar!” Deus, como eu precisava de uma conversa dessas agora!

Dizem que todos os casais de pais uma hora ou outra acabam implicitamente bancando o “good cop, bad cop”, ou “mãe virginiana, pai indulgente”. Eu só não imaginava que, nove anos depois, eu ainda fosse precisar tanto da tua defesa no tribunal de família, onde ela sem perceber faz tão bem o papel de promotora. É claro que eu a amo, e que meus piores pesadelos envolvem a fobia que sinto de perdê-la – e ainda mais cruel porque sei que é altamente plausível, taí você que não me deixa mentir. Mas isso não torna mais fácil a vida de alguém que conta com um superego tão crítico. E nesse Dia dos Pais de um ano em que os “sonhos feitos de brisa, vento vem terminar”, minha Travessia se mostra mais cheia de pedras. Mesmo sabendo que “forte eu sou, mas não tem jeito; hoje tenho que chorar”.


*Para ler ouvindo Travessia (com o Flávio Venturini ou com a Elis), a música que me segurou no pior momento da minha vida – e que não deixa de ser uma declaração de amor.