sábado, 27 de abril de 2013

"Se não tá mais à vontade, sai por onde entrei/Quando começo a dançar eu te enlouqueço, eu sei/Meu exército é pesado a gente tem poder..."*

*=Meu mais novo guilty pleasure, Show das Poderosas, com a mega poderosa MC Anitta. Porque era pra ser um texto sobre paixão, mas mudou de tema. #prioridades

Me lembro de uma aula dada por um (maravilhoso) professor (homem, hétero e o baixinho careca pançudo mais sexy que já vi), em que ele dizia que ser mulher é um exercício de ser muito mais dúbio do que ser homem - porque o homem nasce sabendo o que é ser homem e sabendo que nunca vai ser esse ideal, e a mulher aprende a ser mulher vendo outras mulheres, e nunca é tão claro o que se espera da gente. O ideal de mulher é uma figura meio borrada (e totalmente mutável) que, ao mesmo tempo em que nestes tempos é algo quase inatingível, sempre há esse quase a nos dizer que é não só possível quanto obrigatório. Mas que raio de ideal é esse?
Normalmente os meus textos aqui são bem mais pessoais, mas agora aproveito pra divagar sobre o tema (e nas entrelinhas borradas de rímel me permitindo revelar um pouco aqui e ali). E no fim, acaba sendo de novo um texto sobre o meu momento.
Somos ensinadas desde cedo a sentar de perninhas fechadas e mais: CRUZADAS. Tipo um impedimento pra qualquer aproximação de um falo simbólico ou não. E a ser boazinhas, comportadas, não sujar os vestidos enquanto os moleques aprendem como primeiras palavras "papai", "mamãe" e "taiaio" (ou alguma outra tentativa de falar "caralho"). Aos meninos são dados os bonequinhos de lutinha, e a nós as bonecas que nos demandam com choro ou fraldinhas que sujam "de verdadinha". Não tô dizendo que ser homem é mais fácil (pelamordedeus, eles têm que lidar com a gente. Só isso já é complicação aos quilos. Além do mais, me falta a óbvia experiência no assunto). Mas pensemos nas nossas possibilidades e obrigatoriedades (apenas 4% das mulheres do mundo todo se consideram bonitas. Guardem essa informação que daqui a pouco chego nela).
Aí vem uma filha de Lilith e diz que tá tudo errado. Se recusa a aceitar as bonecas e o se achar feia, descobre que chegar de punho fechado e meter as caras é a sua verdade. Resolve ser esse 4% - se as outras não querem, deixa que eu chuto. E o que acontece?
Ela incomoda. Faz as crentes do status quo se remexerem em suas cadeiras, puxando as saias pra baixo e os decotes pra cima. E inevitavelmente atrai o olhar dos homens - seja pelo que a saia quase mostra ou pelo próprio destoar, atrai. E aí incomoda de novo - e assusta, mulheres e homens. É quase um Godzilla chegando em Tóquio.
Penso nisso tudo vendo três persona(gen)s que estão "na pauta", um pouco mais ou muito menos. Por que será que numa série infanto-juvenil, no meio dos restarts da vida, aparece uma personagem tão adulta quanto a Fatinha? Menina meio louca, periguete declarada e juramentada, inteligente a ponto de zoar Clarice Lispector (e acho que o amor seria plenamente correspondido), mete os pés pelas mãos, causa, faz besteira, mas na hora do aperto, feito mãe, acolhe todo mundo no quartinho do seu trabalho. Porque ela sabe de algo que aquelas crianças não sabem. Causa, sabe que causa e gosta mesmo disso: causar. Era pra ser vilã, mas rouba a cena da mocinha. Ou era pra ser mocinha, mas tem backbone (ou tutano, palavra horrível) demais pra caber no vestidinho rodado ou nas camisetas de rock compradas na loja de departamento.
Outra que tem me chamado a atenção é a musa do post. Acho curiosíssima a reação das pessoas pra quem eu mostro as músicas da Anitta. Mesmo tendo o mesmo estilo musical do one hit wonder do mês (passado), parece que a aceitação dela por essas bandas não tem sido a mesma. Será que é porque paulista teima em torcer o nariz pro que vem do RJ (até pegar o bonde depois que todo o Brasil já embarcou), ou será que é pelo fato dessa menina gata pra caramba cantar usando uma calcinha grande que é poderosa, mexe com a imaginação e não aceita menos do que deseja? Será que eu tô só uns meses adiantada ou tem mais coisa aí? Quem (além do tempo) se arrisca a responder?
E a terceira figura desse post. Enquanto você só fala uma gracinha ocasional aqui ou ali, é fácil ser parte do bando. Mas e quando a ovelhinha mostra os dentes, como fica? Quando a she-wolf dá as caras, e pisca os olhos amarelos em direção pouco conveniente? Pior ainda se, ao invés de sorrir amarelo e dizer que tá de dieta, ela saboreia a tortinha de climão e ainda lambe os dedos! Por mais que ainda seja a mesma, ainda tenha a admiração da matilha, o cheiro mudou. Lock your men, there's a shewolf out of the closet! E causa tanto tumulto que é capaz de fazer a vestal em um só dia brigar em público, mostrar o dedo do meio e depois ainda dizer que "essa garota é uma figura". Ela mostra as garras e vai atrás do que quer, mesmo que esse querer esteja em outros pastos. Ela vai e pronto, pro inferno com as regras, pro inferno com as cercas.
É muito engraçado ver como a maioria das mulheres ainda é #teamAniston. A mulher já tá noiva do quarto cara, mas ainda é vista como a pobre vítima da loba Jolie. Porque é mais fácil se manter com as perninhas cruzadas. E ao invés de experimentar novos terrenos, é mais fácil olhar torto pra quem anda por outros prados - mesmo estando loucas pra se aventurar também. E ela, a shewolf, comete o maior pecado de todos: não pede desculpas pela sua natureza lupina, não se apaga pra não ofuscar as outras.
Até os homens às vezes se assustam, mas oscilam entre o medo e o fascínio. Outro professor (também "hômi com H") disse que ouvia um barulho de saltos e pensou que fosse uma assombração, mas era ela. Ele não está de todo errado. Eles podem até não querer olhar, mas sempre olham.
E quer saber do que mais? No fim das contas, é a Jolie quem tá casada com o Brad e com seis filhos lindos.   Santa Mae West tá coberta de razão: as boazinhas vão pro céu, as más pra todo lugar. E se divertem muito mais.
E se não tá mais à vontade, sai por onde entrei.

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